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GRACIA CATANHEDE
(BRASIL – RIO DE JANEIRO)
A advogada e escritora Gracia Maria Baldoni Cantanhede, mineira de Campos Gerais, mas brasiliense de coração, toma posse como membro da Academia de Letras de Brasília no dia 5 de dezembro, às 19 horas, em cerimônia na Embaixada de Portugal.
Escritora premiada e reconhecida, com oito livros publicados e uma vida dedicada a cultura e ao direito, a advogada Gracia Maria será homenageada em solenidade, na presença dos demais membros da ALB e convidados. Gracia Cantanhede ocupará a cadeira nº 23, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias.
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CATANHEDE, Gracia. Bacia das Almas. Editores responsáveis: Patrícia F. Drago e Gustavo Drago. Rio de Janeiro: Drago Editorial, 2017. 107 p. ISBN 978-9596-005-3 No. 10 093
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito, em outubro de 2024.
Aquarela
Tenhouma janela que se abre para a casa ao lado
Daqui vejo pessoas que se movimentam e riem
Em abraços se beijam, e cantam,
Ás vezes brigam, gritam, e também se calam
E cozinham, sinto o cheiro de cebola e alecrim
As redes dessa casa balançam, balançam...
Vejo-os também jogar cartas, e roubam no jogo
Por isso brigam e deixam, ali, baralhos rasgados
Todas as manhãs acordo com barulho de portas
Que se abrem e fecham e abrem e fecham
para os personagens de Lope de Vega:
Barulhentos, irrequietos inquilinos da frente.
Não entendo por que só eu vejo essa gente
Eu que moro sem ninguém
Às vezes penso que criei cada um deles à minha imagem.
Como os rabiscos de desenho das minhas telas
Já me acostumei a ver jardins que não existem por aqui.
E ninhadas de gatos passeando entre meus pés
E duendes saindo das moitas de margaridas
Sem que ao menos eu tenha um quintal
Muito menos um jardim
E vizinhos barulhentos, como os que vejo e vi.
Não faz mal, talvez eu crie mesmo até felicidade
Já me acostumei a ser assim.
Setas
A estrada é reta, como a espera,
não apenas cortes,
não há acostamento, nem placas.
Logo o pisca-alerta
vejo o sol, um rastro de cal
procuro setas...
Por favor, há assaltos, perigos...
A estrada segue,
estou nela.
Só eu sei, só eu sei o caminho
das minhas passagens secretas.
Alma de artesão
Se toda noite espera pela manhã
há uma fé de que luz virá,
onde a claridade ainda escondida vem
não esperamos a manhã em vão.
Faz parte da natureza as esperas tantas.
Tudo a seu tempo há de ter caminhos,
por isso temos a alma de artesão
e vamos tecendo as horas e os dias
como o navio no cais em estadias.
Os meses passam de janeiro a janeiro
e a vida segue preguiçosa o seu roteiro.
Beco sem saída
A vida pode ser assim:
desejo incurável,
paixão sem limites,
amor sem mistérios,
busca e encontro,
caminho sem volta,
gesto de espanto.
razão e loucura,
poder e barganha,
rota esquecida,
glória alcançada,
angústia e tristeza,
alegria e beleza,
santo e bandido,
lutas inglórias,
batalhas perdidas,
vitórias roubadas,
ausências sentidas,
destino viável,
azar incontido,
fruto proibido,
beco sem saída.
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Página publicada em outubro de 2024
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